Aos cardos e espelhos



Porque não paro de pensar nele? Porque dessa sensação estranha de divisão da minha mais profunda solidão? Que estrela é aquela que vejo brilhar em suas palavras? Ele me fala dos cardos, será que ele não percebe o que ele tem feito comigo? Ele me questiona de forma enigmática e fala-me dos espinhos... mas ele me manda música e esperança!

Ao mesmo tempo, está claro em suas palavras, acho que ele esperava outra coisa de mim... Ele talvez esteja se desiludindo... Não posso ser outro alguém se não eu mesmo, afinal, não sei o que se passa ao certo, só sei dos meus sentimentos e eles dizem que eu tenho que ser eu mesmo, com toda a minha complexidade pessoal, mesmo que ela se resuma ao cotidiano e coisas banais... será que ele é insensível e não vê que o que eu mais quero é saber como ele é, de um modo mais completo possível!?

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Caro Driftin’

Talvez eu tenha sido claro contigo no meu último e-mail. Talvez lhe tenha subjugado algumas que valiam como essenciais. Contudo não vou explicar algo que é muito mais sensitivo do que racional, vou, por bem, confiar em nossa capacidade de perceber o outro mesmo nesta vasta escuridão de palavras. Eu prefiro a nudez crua da verdade, mas não dispenso a tua fantasia, ela faz parte da tua verdade também.

Falemos do meu cotidiano: Os dias são calmos nesta época do ano por aqui. Não posso te negar que o calor do sol às vezes me traz tanta alegria que tenho vontade de dizer bem alto um bom-dia as coisas do mundo. Ontem, ao ir até à padaria deparei-me a uma praça que até então me passara despercebida. Na verdade estava inventando um caminho novo para chegar no mesmo lugar, não estava satisfeito com a ausência de flores daquele caminho velho, já o novo, tinha essa praça tosca porém aconchegante. Era muito cedo, na praça só havia dois senhores descontraídos, falando de futebol... A calma e a sensação de certa “missão cumprida” eles emanavam nos sorrisos entre uma acusação e outra em devesa aos seus times preferidos. Neste novo caminho as flores eram bonitas, elas estavam ali, entre várias cores, tamanhos e perfumes... destacavam-se entre as folhagens mas podadas... Estava feliz naquela manhã! Aquela praça me pareceu o resumo de mim mesmo. Seu tom melancólico, bucolicamente solitário, de certo modo à espera de um braço companheiro.

Você percebe como que o cotidiano é tão complexo? Conte-me de suas expressões? De suas sapiências e de seus temores. Dos seus amores e desilusões! Conte-me os seus sonhos mais profundos, aqueles que você não conta nem para o seu próprio travesseiro, mas, conte-me também do seu cotidiano. Quero sentir o cheiro do café de suas manhãs e imaginar as águas cortando o seu corpo num banho de cachoeira. Será que você me entende? Pois não nos importa tentar desvendar matematicamente os mecanismos de nossas incoerências, preferimos muito mais nos dar a liberdade de sentir e ousar sentir mais e mais mesmo que em outros tempos mãos ternas trataram-nos com descuidado.

Se me permite, quero lhe ser sincero neste instante: vejo-lhes como um cara alegre! Um pouco perdido talvez, mas és alegre porque guarda em ti algo que não sei explicar, mas vejo claramente... Confuso o que lhe digo, mas é o que sinto em relação a ti. Talvez o que nos falta neste momento é tomarmos um sorvete! Tuas palavras, a música, minhas reações... é uma mistura de coisas que nunca pensei sentir mais e outras tantas novas... Sabe, andar por aquele novo caminho fez eu refletir a vida por um outro ângulo, um outro ângulo que me permitiu incluí-lo nele, sabendo lá só o destino o que isso quer dizer ou onde vai chegar.

Sem mais delongar-me, um conselho de um curinga: procure em mim aquilo que mais profundo e bonito tem em ti, pois na verdade o seu maior triunfo foi um dia ter retribuído o oi com um sorriso, mesmo que com certo tom de estranheza. Afinal, não temos medo dos espelhos nem dos espinhos.

Um abraço beeem apertado!

Junnuz

Comentários

J.C. disse…
Pq até hoje, nunca mais tive nem uma única palavra daquele lá de longe, mas que sempre me pareceu tão perto?

Sinto muito a falta dele... é como se ele fosse parte de mim... O que devo fazer? Escrever de novo? Escrever até cansá-lo e então, carlar-me teria pois o irritaria deveras!

Ainda o aguardo, ansiosamente

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