quase monossílabos

 
 
Não faço amigos com facilidade. Não costumo encontrar por aí quem se refugie na substância do silêncio, quando os dias principiam a confrontar-se com os desígnios da monotonia. Com os parâmetros da rotina.
 
É-me difícil permanecer acantonado num recanto da realidade, quando os sonhos continuam a desafiar-me e as ilusões se perspectivam na lucidez da memória. Procuro, em todo o caso, conjugar as emoções em redor do infinito onde as imagens se materializam. Onde a penumbra é, ela própria, o mais complexo dos labirintos.
 
Limito-me, por isso, a convocar as palavras com que me projecto no vazio. Com o objectivo, é certo, de partilhar os factos e os gestos, mas sempre consciente da genuína impraticabilidade dessa alegria que continua a ser-me estranha.
 
Tudo porque prefiro prosseguir pelos atalhos do inatingível!...
 
...
 
Junnuz!...
 
Era um dia sem grandes referências - apenas mais um na previsível rotina dos calendários. Nesse tempo, contudo, ainda não sabia que as palavras podem ser a mais perfeita sustentação do silêncio.
 
Talvez fosse novembro. O nevoeiro insinuava-se pelas esquinas, amarrotando os corpos e os delicados instrumentos da alegria. Não havia como escapar à recordação daquelas noites pelas quais se espraiava a diminuta chama das candeias. O insinuante cheiro do outono.
 
De súbito, como se as sombras se reflectissem no vazio, não obstante a textura das paredes, atravessaste a reduzida fronteira da abstracção e até os pássaros, confundidos pela luminosidade do teu olhar, se refugiaram sob as folhas que o vento ainda não arrancara aos ramos indefesos.
 
Só mais tarde me apercebi dos raríssimos contornos do teu sorriso, mas disso faleremos quando os sonhos e a memória se reunirem na projecção da saudade.
 
 
driftin'
 

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